domingo, 25 de janeiro de 2015

Ao compasso das ondas










"Foram me chamar, eu estou aqui o que é que há?"


Quem me chamou? As águas cristalinas, o barulho das ondas, o frescor da beira-mar, lugar amplamente desejado nestes dias de fornalha acesa.Pisando devagarinho, nas vagas baixas em areia úmida vou recompondo histórias, cantarolando melodias e me gratificando pela brisa fresca, pela maciez do chão, pelas esperanças repetidas no balanço das ondas a ecoar__ acredite,tudo se harmonizará.



No compasso dos passos revivo a leitura dum trecho de Jean-Yves Leloup," O corpo fala/ simbologia dos pés"


" Os pés têm a forma de uma semente.Temos em nosso corpo três estruturas em forma de semente: os pés,os rins e as orelhas.E existe uma conexão entre eles.Os pés escutam a terra e nos enraízam na matéria.Os rins estão à escuta das nossas mensagens interiores[...]Os rins são um grande filtro que retira do sangue as impurezas,e existem em nosso corpo coisas difíceis de serem assimiladas e filtradas.Quanto ás orelhas, elas estão lá para aprender a escutar os dizeres, as informações, que a partir dessa semente, podem fazer uma flor e dessa flor, um fruto.Todas as partes de nós mesmos estão se tornando, estão vindo-a-ser..."



Apurar as sementes do corpo e fazê-las férteis de boas florações é frutificar-se em vivências alvissareiras!





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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Momentos clicados







Mesmo sendo redundante, não tenho escapado à influência destes dias quentes, porém luminosos, rasgados no véu das madrugadas abafadas pela sentida presença do astro da estação, o sol, que cedo se levanta e anuncia incólume a sua real presença.Agendo-me conforme seus ditames e busco na clareza dos seus dias estender meus horizontes.




E pra não deixar escapar os melhore momentos trago aqui uns relances nos tons da estação.O que acham?







"Em tempo"__ tenho tido, nestes últimos dias, ausências sucessivas de sinal.Está uma gangorra doida me dificultando as visitas e postagens.




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domingo, 11 de janeiro de 2015

Visita ás terras da infância









Aquele dia todo agendado anteriormente não parecia sujeito a mudanças, mas o foi logo pela manhã num telefonema que pedia minha companhia pra netinha do coração.Com zero esforço de adaptação inclui a parceria nos afazeres do dia que começava cheio.Saímos, as duas, de mãos dadas e conversa afinada pelas ruas lotadas da cidade.Pré-adolescente moderna, 11 aninhos de vivacidade e muitos cuidados, dentre estes o pouco costume de andar a pé pelas ruas centrais, ia ela curiosa indagando sobre tudo que passava ante seus olhinhos novidadeiros.

Lojas grandes, pequenas, empórios antigos, casas tradicionais...tudo se interligava na procura dos ítens que listei antes de sairmos de casa.Pra cima e pra baixo, sem reclamar fomos percorrendo os caminhos que nos levavam a lista feita.Desavisadamente distraída vi-me em terras conhecidas.De repente estávamos pelas cercanias do bairro onde nasci e vivi até os sete anos de idade.A cada passo as lembranças ganhavam contornos mais fortes e as histórias chegaram prontas, na ponta da língua, saltando a frente do nosso caminhar.
Fiz-me guia de minha própria história mostrando a jovem turista os pequenos detalhes ainda visíveis duma época antiga, minha infância, minhas recordações.A velha casa que hoje abriga outra família, a padaria da esquina onde íamos, minha avó e eu nas tardes de verão saborear um imperdível sorvete de creme, a fábrica de biscoitos caseiros que invadia as tardes da ruazinha com os aromas das fornadas vespertinas.O velho sapateiro já não mais se encontrava, nem a banca de jornais, só a larga esquina que se abria como uma diminuta península ajardinada, resistia bravamente.

Na rua seguinte tremula a bandeira nacional no mastro ao rés do muro da escola municipal onde minha avó iniciou sua carreira no magistério.Paramos em frente aos dois janelões demarcantes da sala onde ela lecionou durante 25 anos.Coração descompassou, e nos olhos embaçados quase pude ouvi-la me suas lições com a turma.

Tempo que urge, horas que pedem pressa, afastamo-nos das terras da infância, eu revigorada pela inesperada e compensatória visita, ela satisfeita pelas novas paragens visitadas.

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Duas ruas abaixo ficava esta fábrica tentadora.






Fotos garimpadas no site da coseaff(uff)



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Imagem: uol




quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Coragem para a Liberdade











(Visão – crônica de Rubem Braga/excerto)


"No centro do dia cinzento, no meio da banal viagem, e nesse momento em que a custo equilibramos todos os motivos de agir e de cruzar os braços, de insistir e desesperar, e ficamos quietos, neutros, presos ao mais medíocre equilíbrio – foi então que aconteceu. Eu vinha sem raiva nem desejo – no fundo do coração as feridas mal cicatrizadas, e a esperança humilde como ave domestica – eu vinha como um homem que vem e vai, e já teve noites de tormentas e madrugadas de seda, e dias vividos com todos os nervos e com toda a alma, e charnecas de tédio atravessadas com a longa paciência dos pobres – eu vinha como um homem que faz parte da sua cidade, e é menos um homem que um transeunte, e me sentia como aquele que se vê nos cartões-postais, de longe, dobrando uma esquina – eu vinha como um elemento altamente banal, de paletó e gravata, integrado no horário coletivo, acertando o relógio do meu pulso pelo grande relógio da estrada de ferro central do meu país, acertando a batida do meu pulso pelo ritmo da faina quotidiana – eu vinha, portanto, extremamente sem importância, mas tendo em mim a força da conformação, da resistência e da inércia que faz com que um minuto depois das grandes revoluções e catástrofes o sapateiro volte a sentar na sua banca e o linotipista na sua máquina, e a cidade apareça estranhamente normal – eu vinha como um homem de quarenta anos que dispõe de regular saúde, e está com suas letras nos bancos regularmente reformadas e seus negócios sentimentais aplacados de maneira cordial e se sente bem disposto para as tarefas da rotina, e com pequenas reservas para enfrentar eventualidades não muito excêntricas – e que cessou de fazer planos gratuitos para a vida, mas ainda não começou a levar em conta a faina da própria morte – assim eu vinha, como quem ama as mulheres de seu país, as comidas de sua infância e as toalhas do seu lar – quando aconteceu[...]" 

Assim também ia o dia daqueles que desenhavam com crayons marcantes os diferentes cotidianos da espécie humana em suas variantes matizes, quando aconteceu...













Não intimidar-se, mesmo diante da tragédia imposta, é a resposta democrática que o povo francês dá ao mundo.