quarta-feira, 25 de junho de 2014

História de Bastidores








Mesmo com os dedos das duas mãos esticadinhos até o chão, joelhos flexionados, alternância de lados, a turma do Pilates não fica de boca fechada.A gente desata a falar desde o primeiro bom-dia e sai esticando conversa sobre tudo.Troca receitas, reclama dos fatos, indica leituras, filmes, opina, comenta,e tudo entre uma e outra puxada de mola.Foi assim que na aula passada minha jovem colega integrante dum grupo de teatro local comenta que estão precisando duma mulher madura para um papel específico na peça que estão ensaiando e  ato contínuo, me convida para o tal papel."Eu? Pergunto de boca e olhos arregalados"."Sim, diz ela." "Você tem desenvoltura, fala com clareza, porque, não?" Explico que a esmagadora maioria das professoras possui estas mesmas características e que há muitas outras bem mais capacitadas para a função do que eu. Ela não se dá por convencida e diz que vai aguardar um tempo pra minha resposta.

Imaginem, eu atuando numa peça teatral.Virge! Seria um rebuliço aqui em casa(rsrs).As poucas vezes que subi num palco foram todas nas festas dos colégios nos quais trabalhei e isso acontecia na condução das festividades ou nas encenações tímidas de pecinhas para os alunos em comemoração à semana da Criança.Todos os anos os preparativos para esta semana já começavam em finais de setembro e toda equipe de professores se envolvia no projeto e nas atividades para cada dia de comemoração, reservando o dia 11/10 para uma encenação teatral baseada numa historinha previamente adaptada por uma colega roteirista amadora encarregada da tarefa todos os anos e, assim nós professores fazíamos os cenários, as caracterizações e decorávamos as falas; haja disposição, mas no fim dava certo, ou quase.

Numa dessas, eu descobri o que era terror de palco.Não por mim, mas por uma colega.Toda a estratégia das preparações seguia como previsto, quando em um dos ensaios ela nos falou que não gostava de falar em público, então, nossa roteirista lhe deu um papel duma única fala, ela seria a rainha do mar ( porque tinha cabelos longos) e adentraria o palco sentada num skate vestida com um rabão de sereia feito em celofane brilhante e diria:
__ Acalmem-se ondas do mar, deixem as casinhas ao seu destino chegar!

Tudo certo nos ensaios.Chegou o dia.Corridas pra lá e pra cá.Fantasias, pinturas, cenário nos trinques.Criançada arrumadinha no auditório e nós só esperando as cortinas abrirem-se.Sinal dado,sinal cumprido. Rola a peça.Gira daqui, canta dali, espera a deixa, fala trocada, segue, segue... bem na hora a contra-regra ( funcionária), empurra o skate com a rainha do mar.Desliza ela do canto para o centro do palco.Pára.Silêncio. De frente para o "público" ela está imóvel.Um minuto, dois, quase cinco e nada.Ela está congelada.Não move um músculo.Não faz um som.A criançada começa a se agitar.Rapidamente, nós as quatro casinhas viajantes, vestidas em caixas de geladeira "customizadas", nos aproximamos da colega e vamos dizendo a sua fala e a retirando pelo outro lado do palco.Segue, segue... e a peça retoma seu ritmo e chega ao final debaixo dos aplausos entusiasmados e inocentes da nossa seleta platéia. 

Volta ao camarim improvisado, tira tudo rapidamente, as turmas estão esperando pra festinha na sala com bolo e guloseimas. Corre gente; é aí que a "rainha do mar", vira pra nós e diz:
___Acalmem-se ondas do mar, deixem as casinhas ao seu destino chegar!(rsrs)

Já pensaram se isso acontece comigo diante duma platéia de exigentes estranhos? Será o fiasco do ano. Melhor não, né?

FIM 



¨¨**¨¨**¨¨




Imagem: Playhouse Theatre

16 comentários:

  1. rssssssssssssss...

    Ri muito imaginando essa cena.Pobre sereia!

    E se o skate tivesse virado,o que ela diria então?

    Essas lembranças que em ti ficaram marcadas são legais!

    Mas não podem te paralisar...

    Nem te conheço pessoalmente mas acho que darias muito bem para um papel no palco, pois na vida, já o cumpres muito bem.

    Só não sei os "bastidores em casa",rs ... O que pensariam,rs


    beijos,boa sorte ! Tuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuudo de bom! Adorei te ler,mais uma vez! chica

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  2. Ah! Sim, sim!
    A plateia blogueira quer te aplaudir e também queremos uma fotinho...
    Pense, pense. Deve ser uma aventura subir ao palco!
    Beijo

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  3. KKK...Calu, eu me lembrei de um fiasco que dei igualzinho...só que na televisão. Uma TV não conhecida,graças a Deus! Fui pra fazer meu teatrinho de fantoches da menina voadora e, mesmo atrás do palquinho....minha voz não saia!...rss...foi muito engraçado depois!...rss...na hora foi um sufoco com meu marido me soprando as falas....rs....não tenho jeito pra artes cênicas, mas se vc arriscar quem sabe? De repente se revela uma grande atriz! bjs,

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  4. Calu:
    Tô na torcida pra você aceitar o convite.
    Creio que capacidade você tem de sobra.
    Lembre-se: a platéia desconhece o enredo, e nem vai perceber erros ou deslizes.
    Portanto: arrisque!!!
    Bjs.:
    Sil

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  5. Olha Calu, qd meninas, minhas irmas, amigos e eu, faziamos teatro. è uma das coisas mais divertidas pra se fazer, eu amava! e nao sei porque nao dei continuidade. é lindo!

    dou mó apoio ;-)

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  6. Pois acho que você deve tentar! Vai que é tuaaaaa! Vai lá Calu, vai lá e faça teu goool! Tô aqui na torcida!
    Bjs
    Marli
    Blog da Marli

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  7. Calu, não vá bancar a sereia... enfrente seu "destino" de peito aberto, ou se arrependerá para sempre. Vá, ensaie, capriche e faça com suavidade e naturalidade. Já estou aplaudindo!

    Bjs

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  8. Ah, Calu! Eu vou para Nikiti só para a sua estréia.
    Não foi com você que aconteceu... releve! Que triste ter esse branco no palco!
    Também nunca gostei de ser o centro das atenções e fazia de tudo na escola e na faculdade para não ter que ficar à frente de alguma coisa, apesar de que não conseguia fugir muito. Mas foi depois que me formei, que a "coisa" pegou e daí é correr atrás do prejuízo com cursos de oratória e fono. No teatro existe o ensaio e quando se está no palco, nas primeiras vezes, não se enxerga o público - é como atravessar a ponte sem olhar para baixo.
    Sério, deveria aceitar!
    Beijus,

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  9. hahahha Pois eu acho que você se sairia bem, já tem um knowhow de enfrentar as turmas e pais de alunos, mas para fazer teatro tem que ter o apoio da família, pois demanda muitas horas fora de casa e ensaios. Eu iria lá pra aplaudi-la na primeira fileira, claro.
    Tua amiga não foi a única que teve branco na vida, porque na hora de enfrentar uma platéia, seja ela qual for, realmente pode acontecer isto e foi o que me aconteceu quando era menina, uns 13 anos, e achava que podia declamar uma poesia na frente de todo mundo numa missa de dia das mães. Ai que fiasco! Eu sabia tudo de cor e salteado, mas na hora em que parei lá na frente, no meio do altar e olhei pra todas aquelas caras estranhas, fiquei paralisada e nada saia de minha boca. Precisaram me dar um papel com a poesia escrita para eu falar, porque de cabeça não saiu nada. Não é mole não! Tem que ter uma veia artística. hehe
    Tadinha da sereia sua amiga, que mico ela pagou!
    beijocas cariocas

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  10. Boa noite Calu! Sua escrita me chamou a atenção e me divertiu do começo ao fim...Acho que você deveria aceitar o convite, o desafio. Enfrenta o medo e arrisca, tenho certeza que se sairá muito bem. E se porventura precisar, o improviso pode sair melhor que a encomenda, o público não sabe da escrita. Vai firme, tô na torcida por você...Eu já não sirvo pra nada disso, sou tímida ao extremo, não conseguiria falar um "ai"...kkkkk
    Receba meu abraço carinhoso e tenha um lindo final de semana.
    Marilene

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  11. Que legal, acho que vc se sairia muito bem sim, as luzes voltadas para o palco nos cegam, não vemos a platéia e ai tudo fica mais fácil, srsrsr atuei muitos anos em teatro infantil, fiz faculdade de Artes Cênicas, me deu até saudades, rsrs bjossss

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  12. Oi, Calu, como vai?
    Gostei demais da sua história!!! É verdade, professoras são mestras em falar claro e com desenvoltura... ossos do ofício!
    Lembro-me que fazíamos peças teatrais no Magistério, os professores alegavam que era para aliviar a timidez. E apesar de não gostar de aparecer, do teatro eu gostava, tanto de representar, como de organizar as coisas.
    Ler tudo isso aqui... me fez pensar em escrever um post sobre essas lembranças. Tempo bom! :) Assim como é bom manter os interesses, os contatos, com o passar dos tempos. Pilates é tudo de bom.
    Um abraço!

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  13. Olá Calu, que historia bem interessante que dá vontade de rir;)) pelo seu jeito tão engraçado de contar!
    Eu até entendo o pânico de palco, porque me lembro de com dez anos mal comecei uma recitação, ao ver tanta cabeça à minha frente desatei a chorar! Nunca mais!
    Mas, voltando ao que importa, tenho a certeza que pelo que conheço da Calu aqui e da forma como se expressa, a sua jovem colega do Pilates já viu as suas potencialidades!
    Vá Calu aceite o desafio e depois nos conte! Vai ser um sucesso!
    Um beijinho e bom fim de semana.
    Ailime

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  14. Uma história onde a ação é rainha.

    Gostei muito.

    Beijinhos

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  15. Muito bom Calu com um humor inserido,mas a arte não pode esperar, então...
    #vaiparaopalcocalu.

    Um abração amiga.
    Bju

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  16. Que belo convite. Você é muito expressiva. Vá, corra lá e me convida para assistir. Estou na torcida. bjs

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Teu comentário é o fractal que faltava neste mosaico.
Obrigada por tua presença querida!